Pandemia
Na Austrália, medidas são gradativas
Pelotense Daniele Goodman destaca a maneira como o governo australiano tem agido para enfrentar a pandemia da Covid-19
Divulgação -
A Austrália adotou uma postura de combate gradual ao coronavírus. Não houve um isolamento horizontal imediato, como é possível perceber em países da Europa. O governo registra 5.988 casos confirmados e 50 mortes pela Covid-19. O local, que pertence à Oceania, propôs restrições gradativas, que passaram por constante alteração - conforme o desenvolvimento do vírus e a obediência da população aos decretos. Pela proximidade com a China, a primeira medida foi o fechamento dos aeroportos, cujo impacto atingiu diretamente a vida da pelotense Daniele Goodman, residente há sete anos no país.
Daniele mora em Melbourne com o marido, o australiano Luke Goodman, e os dois filhos, Noah, de três anos, e Ella, de apenas dez meses. Junto com o esposo, já havia programado a vinda a Pelotas para o dia 19 de março. As restrições começaram há cerca de um mês e, nas vésperas da viagem ao Brasil, o primeiro-ministro australiano Scott Morrison proibiu as viagens aéreas no país. A determinação adiou os planos do casal. Eles iriam reencontrar a mãe de Daniele, Mara Guimarães, e as irmãs Daiane e Deize, além de ser a primeira vez que os familiares pelotenses iriam ter contato pessoalmente com Ella, que nasceu na Oceania. “O que me consola é saber que foi apenas um adiamento. Prefiro que eles se conheçam num momento bom e que dê para aproveitar - do que nesse momento de incerteza. A gente conversa muito nos grupos de WhatsApp, eu tô sempre mandando fotos da minha filha, estamos sempre em contato. Minha passagem ficou em aberto e até dia 31 de dezembro, consigo aproveitá-la” destacou Daniele.
A pandemia mudou a rotina da família em solo australiano. O decreto permite que os cidadãos saiam apenas em quatro situações: trabalho, ida ao médico, compras e exercícios físicos, para não passar o tempo todo confinado. Daniele já estava em licença-maternidade em razão do nascimento da filha e teve o seu trabalho paralisado, enquanto o marido Luke segue em atividade por atuar no setor de vendas, considerado serviço essencial. Ela conta que, mesmo com o fim da licença, não deve voltar a trabalhar. “Eu estava trabalhando como auxiliar de dentista, que agora também paralisou as atividades. Os consultórios só têm atendido ocorrências graves, que têm sido uma raridade durante este tempo” explica.
Com o cotidiano alterado, Daniele tem se dedicado a cuidar dos filhos. Ela passa boa parte do tempo ao lado dos pequenos, divertindo-os durante a quarentena. “Todo mundo que é mãe sabe que é muito difícil fazer home-office com crianças. E elas também precisam se entreter durante este tempo. A gente monta quebra-cabeças, cozinha, meu marido corre com meu filho de três anos na frente de casa, a gente brinca com eles”, ela conta.
Restrito, mas não proibido
Os decretos do governo australiano possuem um caráter mais restritivo do que proibitivo. Segundo Daniele, o comércio no país está, dentro de um conjunto de limites e fiscalizações, aberto. A lei estabelece regras de tempo e espaço de circulação. Os locais podem funcionar, mas com um número restrito de pessoas por recinto e limitações rígidas de horário. O foco dos governantes tem sido locais que proporcionem uma reunião expressiva de pessoas, como igrejas, academias, cinemas e outros estabelecimentos, estes sim proibidos de funcionar.
Estão previstas multas e, até mesmo, prisões em casos de descumprimento das leis. Por outro lado, as creches seguem abertas, para possibilitar que os profissionais dos setores considerados essenciais possam trabalhar - e ainda são financiadas pelo governo. Neste contexto, Daniele destaca também que o estado tem garantido o funcionamento das creches, medida que proporciona isenção aos pais.
A Austrália é muito bem desenvolvida e é a 13ª maior economia do mundo. Tal condição possibilita que o estado consiga garantir um auxílio para a população no valor de 500 dólares aos desempregados durante um período de seis meses, o que corresponde a aproximadamente R$ 2.610,00. Com o fechamento de setores não essenciais, as taxas de desemprego subiram, o que forçou uma resposta dos governantes. Segundo Daniele, o valor repassado é suficiente para proporcionar segurança àqueles que mais necessitam durante o período da quarentena. No entanto, ela aponta que estes repasses terão um reflexo não tão positivo nas contas públicas nos próximos anos. “Está sendo liberado muito dinheiro e eu e meu marido já projetamos que viveremos um período de recessão. Hoje, a economia vai bem, é estável e consegue ajudar as pessoas. Mas isso vai ter impactos futuramente, essa conta vai acabar chegando” destacou.
Ela ainda afirma que, mesmo com as demissões e com projeções pessimistas para a economia do país, não há protestos para a reabertura de setores não essenciais e que os australianos têm consciência da gravidade da situação, o que dá margem para o poder público trabalhar. “O governo tem agido como um pai que educa um filho. Se o povo respeita os decretos, o estado flexibiliza, deixa o comércio funcionar sob determinadas condições. Se os cidadãos não respeitam, o governo endurece as medidas” explicou.
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